martedì, ottobre 28, 2008

Roberto PIVA: PIAZZACALIXTO

Flavio Viegas Amoreira

Praça Benedito Calixto, Sampa: numa clareira onde o transe poético em magma se fazia: dia 26 de julho Roberto Piva empunhava cálice e a deusa Mnemósine, personificação da ‘Memória’, irmã de Cronos e de Oceanos, mãe de todas as Musas. Onisciente o bardo xamânico evocava a lírica dos primórdios, a genealogia do encantamento, as cosmoagonias em transe continuum... Obsessivo, heterodoxo, nunca me filiei à ‘tchurmas’ literárias: sem ortodoxias, bebi das fonte paranóides de Piva e das galácticas de Haroldo: "gosto de gostar das coisas", dizia Warhol. As damas de Sampa olhavam curiosas Aguillar e o mestre Piva: Alta Cultura na praça são happening provocativo à burguesia desavisada: um orgasmo esse de fazer o ‘mix’ entre o poético-litúrgico e o shopping-utilitário: "Uma tarde/é suficiente para ficar louco" assim abre-se "Um estrangeiro na legião", reunião do clássico paulistano: uranista-erudito, meu mestre Roberto Piva brilhava frágil como os fortes do Tão "mostrando-nos um pedaço cru e sangrento de verdade’’ (Salvador Dali).
Eu vi "Astrakan’’ na Benedito Calixto: "Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci/onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos puxam a descarga sobre o mundo’’ e segui até o termino tresloucado entre o desmanche dum sábado de caloroso inverno "sem o amor encontrado/provado/sonhado/sem procurar compreender/imaginar’’; leio, tresleio, sinto as "Piazzas’’ e seus estômagos "nascendo/no lindo lugar/de um amável coração/um banco revirado/cheio de silêncio/a tarde/sorrindo de frio/para poucas/cenas de ciúme ou Rimbaud beijando as pessoas/sua máscara lógica/dor irradiando/no ar/sobre o olhar sonâmbulo do anjo que ainda grita’’. Em tempos de literatura broxa, tive momento mágico: fui um anjo de Win Wenders espreitando o arcano bruxo: fiz-me Nietzsche até Santos: "Corre o rio do meu amor para o insuperável? Como não encontraria um rio enfim o caminho do mar?’’
Ficamos loucos na piazza piviana: "No alto do Viaduto o louco colava pedacinhos de céu na camisa de força destruindo o horizonte a marteladas/a Morte é um REFRÃO NO CRÂNIO SEM JANELAS’’. Eu que te buscava Roberto Piva: "apalpo teu livro onde as estrelas se refletem como numa lagoa". Torno ao Oceano e Roberto Piva faz-me lembrar urubus e garças atômicas. Um meteoro devastador não detêm ímpeto poético: seguirei "Apophis’’, o asteróide rompedor cantando uma ode cósmica. A morte é a ficção dos não-iniciados. Filho de Sodoma, Ludwig II benedito-maldito: Oceano-me.

Flávio Viegas Amoreira é escritor & crítico literário
www.revistapausa.blogspot.com

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