martedì, ottobre 17, 2006


CRÔNICAS DA CAMALEOA
Letras em Cena
Fiz a peça como se fosse uma brincadeira, foi a frase de Elias Andreato durante o bate-papo depois da leitura de Mãe é Carma, um dos textos teatrais lidos no projeto Letras em Cena que vem sendo apresentado todas as segundas no MASP. Brincadeira, assim como as sandices bacanas de Cage no piano preparado, que deu muito certo e não é exclusividade de um momento apenas, não, é um conjunto que começa desde a elaboração do projeto que surgiu com a idéia de Clóvis Torres e Marina Mesquita.
Porque a motivação inicial era essa de se reunir para ler, pelo simples prazer da leitura e não para discussões filosóficas e técnicas sobre teatro. Clóvis e Marina programaram uma agenda que proporciona ao público que gosta de teatro saber um pouco mais sobre o processo de criação dos autores e estes a apresentarem seus trabalhos, suas propostas de roteiro. Uma leitura de um clássico da dramaturgia universal, um sucesso de público nos palcos brasileiros, um convidado contemporâneo – de vários estados do País – e um dramaturgo paulista. Ao todo são dez trabalhos de cada módulo ao longo de nove meses de duração do projeto.
E por aí vai a liberdade de fazer arte, brincando para que a dona-de-casa possa sair de sua rotina e descobrir um mundo que até então era desconhecido. Há satisfação nos olhos de Clóvis e Marina e há emoção em quem vai e assiste a leitura, assim como aconteceu com Patrícia que ao falar do texto de Andreato se emocionou e lá de onde eu estava eram visíveis as lágrimas da atriz Claudia Missura pela morte de sua personagem Cida.
Letras em Cena é um projeto que caminha por si só, talvez por conta desse espírito de leveza e compromisso que toda criança tem com seu brinquedo, e já levou atores como Paulo Autran, Rosi Campos, Cida Moreira, Karin Rodrigues, Lima Duarte e tantos outros que lá estiveram e estão por aparecer pelo simples – de novo – gosto da diversão, do encontro de amigos. Ninguém recebe cachê. Clóvis e Marina não estão sentados num banco de praça reclamando falta de patrocínio ou esperando a aprovação do projeto pela Lei Rouanet. E quando sair – e é preciso que isso aconteça – será porque o projeto tem vida própria não exclusivamente por apelos ou conchavos político-culturais.
O interesse pelo projeto Letras em Cena também é perceptível no site que conta com 135 comentários e 30 mil visitas diárias. Marina conta que só durante uma semana recebeu 200 cadastros de pessoas que querem acompanhar a programação semana a semana. Ainda há grupos de escolas, de jovens do ensino médio, que depois de participarem da leitura produzem seus próprios roteiros.
Muito mais do que isso são os aplausos no final da leitura e o público que levanta tomado por tanta alegria e aplaude sem parar porque entendeu, porque se emocionou, porque interagiu num processo – que a princípio parece tão simples – no qual ele é o mais importante. Somos o que experimentamos. Clóvis e Marina proporcionam esse encontro, de graça, sem pretensões mesquinhas por isso ouvem com muita atenção o que cada um que levanta o braço tem a dizer e respondem e explicam e se organizam para que as colocações sejam democráticas.
Então se você estiver numa segunda cansado de conversa fiada por aí ou quiser um programa inteligente e diferente não deixe que o barulho da cidade te arraste desnecessariamente até sua casa. Aproveite e caminhe e olhe nos olhos das pessoas que andam apressadas pelas calçadas, que saem ligeiras dos metrôs e ligue para os amigos e sugira um encontro na Paulista, na frente do MASP, às 7h (porque é bom chegar meia hora antes), para chorar um bocado, para rir muito a ponto de doer o estômago porque a vida, meu irmão, não é só trabalho, nem só dinheiro. A vida é pura diversão.

As leituras dramáticas do Letras em Cena acontecem às segundas-feiras a partir das 19:30h
no Grande Auditório do MASP, na av. Paulista.
As inscrições podem ser feitas
gratuitamente pelo sítio www.letrasemcena.art.br
ou ou pelos tels. (11) 3086.4224 e 9635.8599.

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