domenica, maggio 27, 2007

phBarrox
Valéria Pereira, artesã; Camaleoa, escritora; e Valdete Pereira, poeta

LiTeratuRAMarGinal
Será Que Será?

Onde está o poeta marginal que eu procuro entre paulistanos, estrangeiros, caipiras, nordestinos, sambistas, funkeiros, metroviários, dentro e fora da Paulicéia Desvairada, sim, ó Oswald, me conta, me explica o que se passa nas entrelinhas das (não)-críticas literárias em revistas e jornais de cultura, uai, sô, sim, porque eu tô por fora de tudo isso, mas tem gente, tem tanta gente pelas esquinas e bares com livros debaixo do braço que chego até ficar contente de ver toda essa literatura produzida sem apelo de editoras, de agentes literários, mas os caras estão no folder, no panfleto, na boca do povo, em manchetes de jornais e eu fico tentando entender o que é essa tal literatura marginal se a pegada tá na escrita, tá na gíria, tá no excesso de palavrão, tá na atitude largada, tá no estilo urgente de viver, tudo hoje, tudo agora, lascando o foda-se pra todo lado e – AH! – mas isso não é falar de literatura ou eu tô ficando doida? Vestuário também virou elemento literário? Literatura marginal! Li-te-ra-tu-ra. MARGINAL! Isso me lembra estar à margem de alguma coisa, de algum processo, de algum lugar, e será que não é isso, todo poeta, de qualquer parte, com qualquer corte de cabelo, com qualquer coisa no papel, escrevendo, escrevendo sem parar sobre corações apaixonados, sobre a revolta dos plânctons, sobre guerras intergalácticas lá no cu do mundo ou aqui, ali, bem debaixo do nosso nariz? Então perguntei a uma acadêmica, uma doutora das letras, uma professora universitária, lá entre araras e tuiuiús, lá de Mato Grosso do Sul e Rosana Zanelatto me explicou que intitular-se poeta marginal é mais uma rubrica socioeconômica do que artística, uma rubrica que indica o não-estar no mercado editorial, uma denominação que encarna um processo que extrapola o viés do artístico, do literário. Pra ela, isso é uma espécie de marketing, e lembra Cidade de Deus, de Paulo Lins, obra que deu força a uma linguagem de escritores cujo principal apelo é o fato de terem nascido, se criado ou convivido com as ditas comunidades e colocarem em cena essa realidade, numa literatura marginal. Rosana me diz que já viu e leu isso antes e foi n’O Cortiço, de Aluízio Azevedo. Eu sei, às vezes nem eu entendo o que esse pessoal quer dizer, às vezes eles são muito chatos, até insuportáveis, mas aí veio a menina que prepara Chá para Borboletas e perguntei pra ela, poeta curitibana, o que ela entendia por literatura marginal. Bárbara Lia me disse, entre uma música árabe e outra, entre pontes e mulheres profanas, entre toda sua poesia extremamente lírica que ser um poeta marginal é estar à margem dos bastidores, das colunas literárias, à margem do respeito muitas vezes, à margem do reconhecimento inclusive dos outros colegas poetas, à margem, sempre à margem geralmente porque você faz perguntas demais, à margem porque geralmente você não é de grupinhos, à margem porque você quer ter a liberdade de escolha de publicar e escrever o que achar melhor, à margem porque você não se encaixa naquilo que atualmente é considerado bacana, legal, cool, hiper, jóia rara. Literatura! MARGINAL! Às vezes eu acho que tudo virou um rótulo, ser marginal é um rótulo, um marketing pra vender livros a preços módicos porque o cara que tá lá na roça e não se encaixa naquela caminhonete, naquele pasto imenso, não se vê sentado na cadeira contabilizando gado ou soja, ele é... Manoel de Barros que conversa com formigas, que fala a língua das árvores, das rãs, já foi durante muito tempo um poeta marginal, esteve à margem, não se encaixava em nada, queria apenas brincar com as palavras e talvez, não sei, um dia eu descubra se falar palavrão aos berros em poema ou prosa faz alguma diferença, ou se tudo bem ser uma romântica com flores enormes em broches na saia ou na blusa e fazer uma puta literatura fragmentada, urgente, dançante, com muito sexo e guloseimas, acompanhada sempre de personagens meio homem, meio animais e entender que ser marginal não é um estilo de vida, que ser marginal não é uma opção, que ser marginal não tem regionalismos, que ser marginal é atemporal, que ser marginal é correr riscos, seus próprios riscos porque, no fim das contas, quando estivermos bem velhinhos ou talvez nem mais aqui, o que fica é literatura, somente literatura.
Camaleoa, JdP#51
phBarrox
Bia Fusko

teatro
Palco e Platéia, que rumos
(ou sem rumos)?

Parece que tem cheiro de queimado no ar QuAnDO se fala em teatro. Alguma coisa no processo não deu certo, passou do ponto, faltou tempero ou a medida foi errada, pelo mais ou pelo menos o conjunto da obra é manco. Manco, perneta, torto.
Alguns anos atrás, quando estava começando a estudar teatro, Gerald Thomas falava em "falência múltipla dos órgãos do teatro". E isso ficou, fixou na minha cabeça consciente e inconscientemente em maior ou menor grau à medida que fui me embrenhando por entre os meios desta arte, seja como público, ou como participante.
No início, na Grécia de séculos atrás, rituais e considerações a Dionísio (outro) e hoje no tão imaginado séc. XXI, eu pergunto: esse teatro é pra quem?
O que muito se vê é um "produto" e agora falo como resultado final, um produto esquizofrênico; que não obstante faz alusão a um mundo propriamente pessoal, uma projeção vinda unicamente a partir do "EU" criador e para ele mesmo. Um tipo de terapia, ou exercício de ego, não sei. A raiz teria-se que procurar. O que se pode ver é a doença manifestada.
Quando não, utiliza-se facilmente de artifícios baratos para ganhar público, ou melhor, dinheiro. Nos palcos e nos bastidores. Como me falou, claramente, certo diretor que perdeu a maior parte de seu tempo a assegurar-me de que "não haveria penetração, nem oral", ao convidar-me a participar de uma peça em que ficaria semi-nua em cena com um garoto. Enfatizava que era essa a motivação do público, de maneira geral, e também por aí se envereda o "desafio do ator". O mais incrível foi ver como acreditavam piamente nesse tipo de idéia, na ênfase de que seja esse um teatro lucrativo, e na crença de uma superação do exercício teatral através de prática tão pobre.
Recordo então outro momento, que estive em uma leitura no MASP, seguida de um bate-papo; leitura essa que se dispunha a discutir uma dramaturgia contemporânea, juntamente com seu público - empáticas ponderações sobre os personagens, os "EUS" da história, psicologias, opiniões, analisadas obviamente por um espectro de referências e experiências pessoais e... pra onde foi a dramaturgia? Coitada, provavelmente seja um dos órgãos de que falava Gerald, a essa altura do campeonato, (que campeonato!) nem se vê direito. Onde começa, onde termina o rabo do cachorro, quando ele começa a girar em círculo? Mas enfim, voltando à leitura de que falava, o ator (da leitura) finaliza o debate concluindo o teatro como mero exercício de catarse, onde o expectador a partir de uma identificação com o personagem, exorciza suas sombras e alivia-se, garantindo sua "sanidade".
Exatamente como acontece nas telenovelas, mas assim de uma maneira mais, refinada, digamos, com uma capa "intelectualizada". Uma espécie de produto, agora sim, no sentido comercial, para um alvo um pouco mais inteligente, mais sacado, que nega a televisão e toda a cultura de massa.
Mas o mecanismo é o mesmo.
Enfim eu pergunto de novo. Pra quem faz. Faz pra quem? E pra quem assiste. Vai pra quê?
Palco e Platéia, que rumos (ou sem rumos)? Húmus, um pouco. Pra adubar essas cabeças, esses espíritos. Uma vez que qualquer estudante de teatro já cruzou o velho Stanislavski, em seu intento de "recriar a vida do espírito humano". Que vida é essa que está sendo recriada?
Sem brilho, sem cor, sem novidade. "Teatro dos vampiros"?
Naquele dia, no MASP, todos concordaram e voltaram para casa tranqüilos, possivelmente aliviados de seus fantasmas. Porque existe, aí, também, uma cultura com uma embalagem um pouco melhor, mas com a mesma função. Uma cultura para fantasmas um pouco mais nobres, que não podem ser exorcizados na poltrona do sofá de casa, mas talvez em alguma outra mais confortável, que possa ser encontrada no teatro, no cinema, ou quiçá em algum espaço alternativo do centro da cidade ou da Av. Paulista.

Bia Fusko, JdP#51


giovedì, maggio 24, 2007

phBarrox, 2007 - série Planeta São Paulo
a praça recebe várias manifestações de arte e cultura aos sábados

jornal do Apocalipse

por Débora Aligieri, especial para o JdP#51
Começa a gargalhada hoje, daqui a 50 dias, daqui a 50 pautas de votação no Congresso, daqui a 50 anos (se a crise energética não se consumar). E sabe quem é o atual Presidente da Comissão de Constituição e Justiça - CCJ? O ACM. Eu preferiria se fosse ACME, Perna-longa para Presidente da CCJ, como sucessor do Lula, aliás, para Governador do Estado, porque a saúde seria levada a sério. Tempos atrás fui ao pólo de diabetes do Estado de São Paulo que, por lei estadual, deve fornecer todos os insumos para tratamento da doença, e fui informada que não fazem mais cadastros porque já tem muito doente cadastrado. Quero meu nariz de palhaço! Qual a função de uma lei estadual que não é respeitada pelo Estado? Eu vou pedir meus remédios pro PCC, porque eles sim pagam remédios para a comunidade carente e até financiam times de futebol. E eu, carente de orientação fui pedir auxílio ao Papa, mas me deparei com um rio de lágrimas populares, até pensei que as pessoas estavam chorando porque o Congresso aprovou o aumento de 30% dos "parcos" proventos dos congressistas, mas era o circo religioso. Então, fui ouvir a primeira entrevista coletiva do segundo mandato do Presidente da República, que ensinou técnicas abortivas como agulha de tricô e chá de caroço de abacate (arrá, essa você não sabia!). Enfim, acho que a culpa deve ser minha por ser diabética, já que todas as propagandas públicas culpam o cidadão: se as ruas estão sujas, a culpa é do cidadão que é porco e joga lixo na rua, não da limpeza pública ineficaz e da falta de lixeiras; se não há recursos para garantir bons serviços públicos, a culpa é do cidadão que não pede nota fiscal, não do desvio de verbas. E o Algore deveria pedir autorização a este distinto apocalíptico, já que agora ganha dinheiro fazendo palestras sobre o fim do mundo (já que não conseguiu se eleger Mr. President para dar causa ao fim do mundo, como faz o eleito). Quero meu nariz de palhaço para começar a gargalhada daqui a 50 minutos, daqui a 50 entrevistas coletivas...
O jornalista Milton Jung foi o convidado do projeto O Autor na Praça no sábado, dia 26 de maio. O jornalista autografou os livros Conte sua história de São Paulo e Jornalismo de Rádio; e o evento fez parte da celebração do oitavo aniversário do projeto, que acontece no Espaço Plínio Marcos aos sábados durante a feira de arte da Praça Benedito Calixto. Jung começou a carreira no Rio Grande do Sul, onde trabalhou nas Rádios Guaíba e Gaúcha e no Jornal Correio do Povo. No final da década de 80 radicou-se em São Paulo, foi repórter nas tvs Globo, SBT, Cultura e Rede TV até entrar no Portal Terra onde apresentou o primeiro jornal eletrônico brasileiro, o Jornal do Terra. Apresenta atualmente o CBN São Paulo, na rádio CBN e por três anos seguidos foi finalista do prêmio Comunique-se na categoria Melhor Âncora de Rádio. (EB)

sabato, maggio 19, 2007

ph Barrox, série Planeta São Paulo, 2007
ESTRANGEIRO NOVE agora é quase esse dia de manhã e, por exemplo, tinha um cartão na caixa de correio! porARTandywarhol meninas de maquiagem forte e olhares difusos. ainda acho estranho que de manhã o rádio do carro toque Mozart pra caras que estão dentro dos carros como se fossem pra quadra da escola de samba, ou talvez seja mesmo por isso. a rua oscar freire de manhã não tem nada a ver com o que dizem os jornais ou a mulher de gestos artificiais talvez não tenha lido as colunas sociais ou olhado direito nos olhos de quem ela diz que é seu amor... seja como for, NOUTRO DIA eu assisti um show, vi uma exposição de arte e conversei com alguns artistas tipo marginais. daí, nunca sei porquê, e enquanto recompunha meus olhares, vi que o mundo TINHA completado uma coisa parecida com outro ciclo. nesse dia era quase de noite, havíamos conversado, bebido, comido e minha mitologia me disse assim desse ciclo. Tento, nessas horas, pensar em outra coisa, talvez mais sérias do tipo que o senhor com ar sério esperando o sinal abrir gostaria de ouvir, mas o que penso remete à lembrança das paisagens que ainda não vimos ou trechos de poesias, ou olhares como no dia em que nossos olhares se encontraram e eu fiquei sabendo de tantas verdades íntimas e pus minhas mãos em seu ombro e num momento muito fugaz acho que senti seus desejos. minhas. suas. Como se recompor de fragmentos abstratos ou de abstrações metafóricas? não decodifico energias cósmicas assim como não preciso agora delinear fernandoPessoa no café de Lisboa ou em noches de Buenos Aires onde Carmencita seminua misturava fumaça de Gitanes a trechos de Cortázar y Borges - vinho tinto - e provocava em boca de carmim astorpiazzolla corpo celestial. Naquele momento de nosso Encontro tudo se transcendeu. noite de hotel, celulares tocando, ouve-se distante o som da música, jazz muito jazz na caixa, a cidade semi-adormecida em fotografias no centro velho e ninguém mais no raio de ação, umbigo do mundo, corpo moreno que mais do que nunca é índia, cheira terra, questão de pele e nos beijamos na calçada em alguma calçada de Paris enquanto o velho que passa quer te reprovar com o olhar enquanto os outros olhos te comem lambuzada em mel e sexo sacana e também procuram armas que destroem extraterrestres pra cortar meus cabelos agora brancos. então te ouço te quiero oferecer mi cuerpo soy loca por ti nesta improvável fusão de destinos, enquanto leio seus poemas e também leio suas palavras escritas com dor e líquidos doces suaves, versos, soleil de manhã, os gatos curtindo o calor circunstancial desse outono estranho no terraço, y saxofone gritos de alerta e tudo que desfaz em noites entre sussurros; assim como na cidade maluca nunca precisa ser noite nunca é dia nem sempre é chuva quase nunca é sol, ou tudo ao contrário nos dizemos enquanto os pop jornais - cadernos culturais de araque - estampam a fotografia retocada da putinha que perdeu o prumo, o cabaço, e ainda não pôde saber dignidade porque se aprender terá que escolher entre isso ou o programa de tv onde expõe pernas abertas e maquiagem borrada. Então o que me importa é que mesmo nesse ‘clima bladerunner’ que de vez em quando se deixa encobrir a cidade, sempre restará aquele momento (mágico?) dos nossos textos escritos um por causa do outro, quem sabe, e o sorriso como quem não sabe, mas no fundo sabemos de tudo e de como ainda vamos poder olhar o mar e dar abraços e coisa e tal. enquanto passam pela rua umas pessoas pop-equivocadas, de roupas e maquiagens erradas e tudo que nem sei. E nessa fusão de agora e sempre seus poemas aqui revelados. me encanta Te saber por dentro, Te fazer perguntas - eu sonhava com isso, eu ainda sonho com isso - e não tenho mais dúvidas sobre valer mais um toque de lábios alimentando a vida com a loucura como quem goza e depois nem sabe quando, ou os livros perdidos em prateleiras muitas e de saber que nem tudo está perdido e porque se ficamos exaustos temos o banco da praça e as carícias obscenas resumos de histórias bem contadas entre frases bêbadas de absinto que nos encantam em delírio seus versos ditos entre goles e sorrisos com olhos alegres. Até porque amanhã é outro dia e ainda há que se costurar outras cinquenta e tantas emoções.
texto & fotografia de capa da edição#51, por Eduardo Barrox

venerdì, maggio 11, 2007


FURACÃO ELIS

Jornalista e escritora, Regina Echeverria faz tarde de autógrafos como parte da comemoração de oito anos de atividades do projeto O Autor na Praça. A autora trouxe nova edição de seu livro Furacão Elis que tem novo projeto gráfico, depoimentos atualizados, além de fotografias inéditas. Regina também é autora dos livros Só as Mães São Felizes e Preciso dizer que te amo – Todas as letras do poeta - sobre a obra de Cazuza e escritos em parceria com Lucinha Araújo - Gonzaguinha e Gonzagão, uma história brasileira, Mãe Menininha de Gantois, uma biografia e Verger – Um retrato em preto e branco, os dois últimos em co-autoria com Cida Nóbrega. (EBarrox)