domenica, maggio 27, 2007

phBarrox
Bia Fusko

teatro
Palco e Platéia, que rumos
(ou sem rumos)?

Parece que tem cheiro de queimado no ar QuAnDO se fala em teatro. Alguma coisa no processo não deu certo, passou do ponto, faltou tempero ou a medida foi errada, pelo mais ou pelo menos o conjunto da obra é manco. Manco, perneta, torto.
Alguns anos atrás, quando estava começando a estudar teatro, Gerald Thomas falava em "falência múltipla dos órgãos do teatro". E isso ficou, fixou na minha cabeça consciente e inconscientemente em maior ou menor grau à medida que fui me embrenhando por entre os meios desta arte, seja como público, ou como participante.
No início, na Grécia de séculos atrás, rituais e considerações a Dionísio (outro) e hoje no tão imaginado séc. XXI, eu pergunto: esse teatro é pra quem?
O que muito se vê é um "produto" e agora falo como resultado final, um produto esquizofrênico; que não obstante faz alusão a um mundo propriamente pessoal, uma projeção vinda unicamente a partir do "EU" criador e para ele mesmo. Um tipo de terapia, ou exercício de ego, não sei. A raiz teria-se que procurar. O que se pode ver é a doença manifestada.
Quando não, utiliza-se facilmente de artifícios baratos para ganhar público, ou melhor, dinheiro. Nos palcos e nos bastidores. Como me falou, claramente, certo diretor que perdeu a maior parte de seu tempo a assegurar-me de que "não haveria penetração, nem oral", ao convidar-me a participar de uma peça em que ficaria semi-nua em cena com um garoto. Enfatizava que era essa a motivação do público, de maneira geral, e também por aí se envereda o "desafio do ator". O mais incrível foi ver como acreditavam piamente nesse tipo de idéia, na ênfase de que seja esse um teatro lucrativo, e na crença de uma superação do exercício teatral através de prática tão pobre.
Recordo então outro momento, que estive em uma leitura no MASP, seguida de um bate-papo; leitura essa que se dispunha a discutir uma dramaturgia contemporânea, juntamente com seu público - empáticas ponderações sobre os personagens, os "EUS" da história, psicologias, opiniões, analisadas obviamente por um espectro de referências e experiências pessoais e... pra onde foi a dramaturgia? Coitada, provavelmente seja um dos órgãos de que falava Gerald, a essa altura do campeonato, (que campeonato!) nem se vê direito. Onde começa, onde termina o rabo do cachorro, quando ele começa a girar em círculo? Mas enfim, voltando à leitura de que falava, o ator (da leitura) finaliza o debate concluindo o teatro como mero exercício de catarse, onde o expectador a partir de uma identificação com o personagem, exorciza suas sombras e alivia-se, garantindo sua "sanidade".
Exatamente como acontece nas telenovelas, mas assim de uma maneira mais, refinada, digamos, com uma capa "intelectualizada". Uma espécie de produto, agora sim, no sentido comercial, para um alvo um pouco mais inteligente, mais sacado, que nega a televisão e toda a cultura de massa.
Mas o mecanismo é o mesmo.
Enfim eu pergunto de novo. Pra quem faz. Faz pra quem? E pra quem assiste. Vai pra quê?
Palco e Platéia, que rumos (ou sem rumos)? Húmus, um pouco. Pra adubar essas cabeças, esses espíritos. Uma vez que qualquer estudante de teatro já cruzou o velho Stanislavski, em seu intento de "recriar a vida do espírito humano". Que vida é essa que está sendo recriada?
Sem brilho, sem cor, sem novidade. "Teatro dos vampiros"?
Naquele dia, no MASP, todos concordaram e voltaram para casa tranqüilos, possivelmente aliviados de seus fantasmas. Porque existe, aí, também, uma cultura com uma embalagem um pouco melhor, mas com a mesma função. Uma cultura para fantasmas um pouco mais nobres, que não podem ser exorcizados na poltrona do sofá de casa, mas talvez em alguma outra mais confortável, que possa ser encontrada no teatro, no cinema, ou quiçá em algum espaço alternativo do centro da cidade ou da Av. Paulista.

Bia Fusko, JdP#51


1 commento:

R. ha detto...

de que teatro você está falando? qual foi a última peça que você viu?
abraços.